Sobre o streaming que comia videos

Sobre o streaming que comia videos

Por Ana Paula Schmidt
Publicado em 06/04/2022
Tempo de leitura: 4 minutos


Resumo, caso você esteja sem tempo para ler

Em março de 2022 o Vimeo removeu vídeos dos canais mais assistidos sem aviso prévio, deixando inúmeros serviços, como cursos e até o Patreon, sem seu principal conteúdo. Então resolvemos falar sobre como as pessoas não lêem os termos de uso na hora de contratar um serviço para sua empresa.

Eu não queria falar sobre isso, mas... é mais forte do que eu. Tem duas questões que me atingem: a jurídica e a empresarial.

Vou explicar: em março de 2022 o Vimeo, segundo maior site de vídeos do mundo, resolveu tirar do ar os vídeos mais assistidos dos usuários "Pro" que configuraram acesso exclusivo desse conteúdo em seus sites, seja site de cursos, seja um perfil no Patreon, ou um blog bastante movimentado. Vários usuários relataram que o Vimeo apagou todo conteúdo, exigindo valores de até U$ 8mil anuais para o usuário poder subir novos vídeos. O que estava lá já tinha sido perdido para sempre.

Para quem não sabe, sou formada em Ciências Sociais e Jurídicas há quase 10 anos. Não atuo na área pois, como diria um professor meu, "se te tira do sério, não trabalhe com o direito". Me evita cabelos brancos do ponto de vista ideológico, mas não em outros.

Mas, o que interessa aqui, e que me deixa inquieta, é que todo mundo que assina um serviço como este não prevê esse tipo de situação. A empresa gastou com designer, com desenvolvedor web, com marketing, mas esqueceu de pedir para alguém revisar o contrato (os contratos, não é mesmo?) de prestação de serviço.

Então, o serviço de streaming chega lá e diz: não pode mais. Vou tirar do ar esse video aqui, esse e esse também. Quer publicar de novo? Me pague mais. E apesar da fúria dos usuários, não há o que fazer, pois já existia essa possibilidade no contrato, ou simplesmente uma enorme lacuna, que permitia tal atitude por parte do serviço.

Ninguém tinha assessoria jurídica? Nenhum advogado tá vendo o que eu estou vendo? Não é possível!

Bom, mas aí vem a segunda parte da questão: como empresário, você pode construir sua loja no terreno do seu vizinho sem alugar? Sem ler o contrato? Sem ter certeza do que está comprando ou alugando? Não. Ninguém vai fazer isso (Eu sei... tem quem faça mas, vou apelar pro bom senso aqui.).

No que diz respeito ao espaço virtual, é a mesma coisa. Se você vai usar o serviço de terceiros para construir o seu negócio, o mínimo que eu espero é que você leia as letras miúdas. E várias vezes. E que tenha alguém pra te ajudar a entender isso. Na dúvida: crie o seu próprio espaço. Se você tem a possibilidade de não depender de outros serviços: não dependa. Quanto maior a sua independência, mas a casa é sua pra você fazer o que você quiser e, principalmente, não ter notificações desagradáveis vindas no celular naquele momento que você está relaxando assistindo uma série.Tem uma terceira questão, que talvez esteja implícita, mas que pode inclusive acabar com seu negócio: você possui backup de todo o conteúdo do seu site? Você tem textos, vídeos e fotos salvos no seu HD, ou em um serviço na nuvem além do que você já publica? Muitos serviços, como site builders, ficam com seu conteúdo. Você não pode exportar as págins e guardar no seu computador. Por isso existem tantas empresas cobrando baratinho: você se torna refém do serviço deles. Precisa trocar de domínio? Depende deles. Está insatisfeito e quer mudar para outro servidor? Desculpe, mas vai ter que copiar/colar todo o conteúdo, pois não há uma ferramenta que facilite a migração.

Por isso é muito importante pensar sobre não apenas a segurança dos seus dados, como também a manutenção deles, garantir que são seus.

É aquilo, você pode transformar a casa feia em um palácio. Mas, se no contrato diz que, na hora de devolver o imóvel, você precisa voltar tudo ao estado original, você vai ter que destruir os pilares de mármore e tirar as torneiras giratórias pra colocar aquela baratinha, de plástico. É o que ele quer, e a casa é dele.

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